Como eu disse no último post, há algum tempo, era apenas um até breve. Então, retomando as atividades do blog, vamos iniciar com um post sobre torcida.
Não passarão!
Nos últimos tempos algumas torcidas organizadas resolveram se manifestar politicamente nas arquibancadas. Ressalte-se que algumas delas já o faziam no passado, mas do que falamos aqui é dos protestos recentes nos estádios e em manifestações de rua.
Falamos dos protestos das torcidas contra o roubo da verba da merenda em São Paulo – o acusado foi promotor antes de ser político e era perseguidor, um verdadeiro algoz das organizadas, inclusive propondo e levando a cabo o fechamento de algumas delas. Trata-se de críticas e protestos pela forma como o futebol brasileiro foi, e é, entregue e controlado pela Rede Globo – sim, a rede de televisão que paga pelo campeonato faz o que quer com transmissão, horário e dia de jogos. A última da Rede Globo é uma rodada de segunda-feira que mais se parece com um quadro do programa de debates do canal fechado da emissora. O jogo em si é um detalhe. Enfim, as torcidas resolveram se manifestar politicamente e cobrar as autoridades. Resolveram se manifestar por melhorias no futebol brasileiro e no Brasil.
Torcidas organizadas são compostas em sua maioria por gente pobre, de periferia, negros, trabalhadores, jovens. São jovens que se agrupam por identificação a um clube de futebol, mas que buscam ali o seu igual, o que lhes foi negado na sociedade, a saber, um espaço de pertencimento. Por esse grupo matam e morrem (figurado e literalmente).
Dessa forma, esses agrupamentos juvenis são – e deveriam assim ser enxergados e tratados – movimentos de caráter social, que acolhem esses jovens pobres e de periferia. Esses, inclusive, realizam diversas ações de cunho social, na periferia, para os seus iguais de classe (independente do time que torcem).
Cabe ressaltar que depois que as torcidas resolveram se manifestar contra o status quo, a reação do poder constituído foi imediata. Em São Paulo, a repressão a esses agrupamentos recrudesceu, e a Polícia Militar, historicamente violenta contra esses grupos, e em geral, sempre agindo de forma desproporcional, resolveu reprimir os torcedores antes, durante e após os jogos. Tudo sob o comando e os “olhos moucos” do Ministério público e do promotor Paulo Castilho.
O Ministério Público resolveu instituir, inclusive, os clássicos com torcida única, sob o argumento de que a violência diminuiria. Não se deram nem ao trabalho de olhar para a vizinha Argentina que tomou a mesma medida e não resolveu o problema. Paulo Castilho, em recente “debate” sobre o tema, de forma autoritária e sem apresentar dados e fatos para embasar sua avaliação, disse que a medida é um sucesso e que agora o próximo passo é livrar o entorno dos estádios (o entorno do Palestra Itália, segundo ele, é “terra de ninguém”) dos torcedores. Esses, os excluídos das Arenas da Copa, agora serão, segundo a vontade do promotor, expulsos também das ruas.
O que o Ministério Público, parte da imprensa e de significativa parcela da população não enxerga, é que movimentos sociais têm as suas demandas, sua forma da organização, de atuação, se organizam de forma legítima e, inclusive, tem a garantia constitucional para funcionar.
Respeitar suas reivindicações, entender o contexto social no qual estão inseridos, dialogar, negociar com esses grupos é a forma mais eficaz de enfrentar o problema da violência – claro que se houver realmente a vontade de resolver o problema e não apenas apelar para ações pirotécnicas visando dar uma resposta fácil para a sociedade.
São Paulo, infelizmente, resolveu optar pelo caminho mais fácil: a repressão policial. Aqui se combate violência com violência. A polícia, com o apoio do MP, despeja bombas, gás de pimenta, e “baixa o porrete” (e a repressão é ‘democrática’, pois daí apanham organizados e não organizados) em quem estiver em sua frente, para na semana seguinte inventar uma nova teoria. A do momento é a cobrança de “pedágio” de ambulantes por parte dos organizados. A mídia, é claro, encampa o discurso repressor e excludente. O ciclo recomeça, a repressão aumenta, e o diálogo segue inexistente.
A violência? Ela existe, é claro. Não se nega isso. Porém, ela está em nosso dia-a-dia, em nossa sociedade, e está – inclusive – na PM, que é organizada para reprimir a população pobre, de periferia, negros, trabalhadores, jovens, movimentos sociais e torcidas organizadas. Não é com violência que se combate violência. Está no hora de testarmos a fórmula do diálogo, de ouvir o que esses jovens têm a dizer.
De qualquer forma uma coisa precisa ficar clara: haverá resistência contra a repressão, a falta de diálogo e essa política higienista e excludente. Não passarão.