Por conta desse evento aqui: Coisa de maluco resolvi republicar o que eu já havia escrito sobre o tema.
A negociação das cotas de TV – aqui no Brasil – já passou. Estão, os dirigentes daqui, querendo ‘espanholizar’ nosso futebol. Os da Espanha tentam modificar e devolver a emoção e a competição ao seu campeonato.
Os dirigentes daqui, os colonizados e vira-latas, tentam nos usurpar o futebol…
Cotas de televisão – Republicado
Quando ouvimos vozes se levantarem contra o chamado futebol moderno, nós – os torcedores de arquibancada – entendemos muito bem do que se trata. Aqueles que apenas dizem gostar de futebol, na maioria das vezes, nos acham fora da realidade, atrasados… Utópicos.
Porém, o mercado – esse novo parâmetro de medida – que a tudo e a todos engole, paulatinamente, vem substituindo a competição, a emoção, o amor, por seu novo e único paradigma; a saber: o lucro. O esporte do povo, aquele que segundo o professor Marcos Alvito, ‘vendeu sua alma’, por aqui também – através de seus dirigentes – quer golpear de morte a seus torcedores.
Quanto se avizinha o tão sonhado dia da negociação das cotas de televisão, que pode dar aos clubes de futebol (a razão da paixão de milhares de brasileiro) a sua independência em relação a uma emissora que detinha a exclusividade nas transmissões, os submetia a sua grade de programação, e justamente pela exclusividade (monopólio), a valores menores, os dois maiores clubes do Brasil – em número de torcedores – apontam para um racha e querem negociar a sua parte (cota) em separado.
Se por detrás desse ‘racha’ temos algo além da divisão das cotas de TV saberemos mais adiante, mas nesse momento, é sobre a divisão das cotas que tratarei.
Futebol é, antes de tudo, um jogo onde a competição tem que se fazer presente. Destruir a competição é golpear de morte o futebol. O que querem Corinthians e Flamengo é, com a negociação em separado, um ‘privilégio’ que irá, a médio e longo prazo, aniquilar com a rivalidade, e, por conseguinte, com o futebol.
Na Europa, local onde nossos dirigentes sempre olham como o paradigma do futebol moderno, isso já vem ocorrendo, e isso muito se deve à forma como o dinheiro das cotas de televisão são negociadas e repartidas.
Tomemos como exemplo o campeonato espanhol, onde os direitos de transmissão são negociados separadamente.
Na Espanha, nos últimos quinze (15) anos, Real Madri e Barcelona se revezaram e ganharam o título nacional em onze (11) oportunidades. Méritos? Só se for o econômico. Para se ter uma idéia a dupla abocanha de direitos de transmissão três vezes mais que o segundo colocado em arrecadação, o Valência (€120 milhões x € 44 milhões). O Atlético de Bilbao e o Sevilha recebem € 20 milhões cada.
Podemos afirmar que isso gera uma distorção que faz com que a competição tenha um vício de origem. Ou seja, o poder econômico transformou a ‘liga das estrelas’ em um campeonato de apenas um jogo: Real e Barcelona.
Na Itália, por conta dessa mesma distorção, que faz com que Juventus, Milan e Internazionale se revezem na conquista de títulos, o Ministério dos Esportes estabeleceu que as negociações não mais podem ser individuais e criou regras claras para a distribuição dessas cotas de televisão, buscando equacionar o problema da falta de competitividade que estava aniquilando com o futebol.
Mesmo nos EUA, que temos como ótimos administradores do ‘negócio’ esporte, as distorções também acontecem. Observemos uma interessante diferença entre a liga de beisebol (MLB) e a do futebol americano (NFL).
Na liga de futebol (NFL), o mais rico esporte do mundo, as cotas de televisão são divididas de forma equânime entre todos os times, ou seja, são negociadas coletivamente. Isso faz com que mesmo times pequenos, de cidades pequenas, sempre estejam disputando em pé de igualdade com times de grandes centros e ganhando títulos. Porém, o mesmo não acontece com a liga de beisebol (MLB), onde as negociações são individuais, ou seja, na base do ‘cada um por si’, e que a cada ano vemos os mesmos chegarem às fases finais (Yankees, Cardinals, Red Sox…).
Dito isso, exemplos postos, podemos afirmar sem medo de errar que a divisão (racha) dos clubes brasileiros, criando a possibilidade de que cada um negocie individualmente as suas cotas de televisão, levará o futebol no Brasil a se transformar em algo muito próximo ao que acontece na Espanha, onde dois ou três clubes, ao monopolizarem a maior parte dos recursos do dinheiro das cotas de televisão, monopolizam também o ‘direito’ de vencer as competições.
Flamengo e Corinthians, através de seus dirigentes, tem todo o direito de buscar aquilo que consideram justo e mais lucrativo para os seus clubes. Porém, ambos devem saber que não tem o direito de jogar a história de seus clubes na lata do lixo, e justamente por serem os mais populares do Brasil, desprezar aquilo em que se fiam – os seus torcedores, as suas chamadas nações – para golpear o amor e a fidelidade a esses dois clubes, que são em última medida, baseadas na rivalidade que se alimenta da competição.
Que saibam Andrés Sanches e Patrícia Amorim que ambos estão dando um tiro de morte no já combalido futebol brasileiro. Saibam que estão dando um tiro de morte em seus próprios clubes, pois eles somente são grande devido à rivalidade. Saibam que estão dando um tiro de morte em seus próprios torcedores, pois sem competição e sem rivalidade chegará o dia em que não basta construir o campo, chegará o dia que mesmo sendo chamados eles não virão.
Em tempo: Além do exposto há também a preferência dos torcedores, que nunca são consultados. Em meu caso, e acho que falo por muitos também, torço muito para que a(s) emissora(s) que ganhe(m) os direitos de transmissão pensem nos torcedores e não nos submeta a horários ‘pornográficos’ devido a grades de programação jurássicas, espero que não fiquemos a mercê do fim de aberrações (novelas e BBB´s) esperando o início do jogo, pois no dia seguinte temos que trabalhar para ganharmos o dinheiro para o próximo ingresso.
Fonte: Manufaturando Consentimento e Major League Baseball